Ana Cláudia Merchan Giaxa
Psicóloga no Hospital Cardiológico Costantini – CRP 08/6196
Uma das formas de entender o estresse é compreendê-lo como uma adaptação. Em tempos de pandemia, a palavra “ajuste” ou adaptação tornou-se imperativa. O convívio por muito tempo no mesmo ambiente, em geral, a própria casa, ou mesmo um trabalho presencial que passou a ser remoto, são situações que demandam uma readequação e, por isso, podem ser desencadeadoras do estresse.
Sempre que recebemos um novo estímulo, seja físico (luz, barulho, dor, empurrão) ou mesmo mental (uma lembrança triste ou ruim, receber um diagnóstico difícil ou ter preocupações constantes), o nosso cérebro se prepara para “lutar ou fugir”, chamamos de fase de alerta. Se o estímulo permanece, entraremos na fase de resistência: a situação não muda e quem tem que se adaptar somos nós. Em geral, isto acontece durante uma semana. Se o estímulo ou situação permanecem por muito mais tempo que um mês, poderemos entrar na fase de exaustão, quando começamos a apresentar irritabilidade, mudança nos padrões de sono e apetite, por exemplo. Podemos inclusive, adoecer pela baixa da imunidade, alergias, ter choro fácil e até desenvolver depressão.
Então adaptar-se não é necessariamente ruim, mas exige energia, boa vontade, conhecimento, planejamento e alguma vontade de mudar (experimentar coisas novas). Porém, quando falamos em estresse, ele precisa ser adaptativo a uma nova e passageira situação. Quando permanece, não é algo positivo, uma vez que ele indica que estamos dando mais do que podemos e que nossos recursos, físicos, mentais e até financeiros, por exemplo, não conseguem fazer frente a tantas solicitações de adaptação.
O estresse então, principalmente quando é crônico, ou seja, demora muito para passar ou que permanece, é que será prejudicial e demandará mais adaptações. Podemos dizer que estamos estressados, quando cansamos de dar mais do que receber, principalmente quando isto significa grande desvantagem ou impossibilidade de se recompor.
Estresse na rotina de trabalho em casa
Antes da pandemia de Covid-19, que obrigou muitas pessoas a enfrentarem o home office, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2018, já tinha uma estimativa de 3,8 milhões de brasileiros trabalhando de maneira remota.
Antes da atual crise sanitária que atinge o mundo todo, trabalhar em modalidade remota (em casa ou não) era uma possibilidade de redução de custos operacionais, de combustíveis, tempo, etc. Contudo, as pessoas podiam fazer outras coisas, além de trabalhar em um local não convencional, como a casa.
Na pandemia, o que um dia foi uma proposta de trabalho, se tornou uma imposição: ficar em casa para tudo! Trabalhar, conviver, rir, chorar, educar, gastar, economizar, aprender, recusar a aprender, obedecer, desobedecer, enfim, várias ambiguidades e contradições típicas da convivência humana.
Para combater o estresse no dia a dia, as palavras-chave são planejamento e aprendizagem. Por isso, elaborei algumas dicas preciosas para você incluir na sua rotina. Confira:
1) Organize um quadro de horário para seu trabalho;
2) Faça intervalos a cada 2h e saia para esticar as pernas até outro cômodo da casa;
3) Deixe o pijama de lado e vista-se como se estive trabalhando presencialmente;
4) Acorde em horário compatível com a sua rotina de trabalho;
5) Desligue celular e computadores, se necessário, ou os deixe longe após concluir seu expediente;
6) Aproveite para conhecer mais a rotina do seu lar, filhos, pais, etc;
7) Jogue jogos tradicionais: os de tabuleiros (ludo, damas, xadrez) ou em grupos, como baralho, STOP, imagem e ação, para descansar o cérebro da luz azul das telas de celulares e computadores;
8) Por outro lado, também use 1/3 do tempo do convívio para sua privacidade, escutar música, deitar e relaxar, ver TV, ou seja, algo que consiga fazer sozinho ou que a presença de outros não atrapalhe;
9) Por conta da pandemia, o melhor é evitar saídas desnecessárias: planeje ida às compras e ao banco, por exemplo;
10) Tem um pet de estimação? Passeie com ele e convide um familiar para irem juntos;
11) Faça caminhadas mais cedo ou após o expediente e por ruas que nunca andou (estimule seu cérebro);
12) Você vai identificar na sua rotina coisas que vai gostar mais do que imaginava: o sol na varanda, o cheirinho do café, o convívio com a rotina da família;
13) Seja um “bom amigo da tecnologia”: aprenda o que precisa para conseguir trabalhar remotamente. No home office é a tecnologia que mantém sua possibilidade de trabalho;
14) Lembre-se: conviver é sempre uma oportunidade de aprender e trocar afetos!
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